HISTÓRIA


FRANÇA APRESENTA A SUA AGENDA 21 DO
ESPORTE PELO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

       O moderno movimento olímpico internacional foi lançado na França, após um congresso na Sorbonne, em 1896, sob a liderança do legendário Barão Pierre de Coubertin. Agora a França mantém seu pioneirismo, com a formulação da Agenda 21 do Esporte Francês pelo Desenvolvimento Sustentável (também chamado em francês de Desenvolvimento Durável).
     A iniciativa foi do Comitê Olímpico Nacional do Esporte Francês, sediado na Casa do Esporte Francês (Maison Du Sport Français), localizado justamente na avenida Pierre de Coubertin. Na apresentação do documento, o presidente do Comitê Olímpico Nacional, Henri Serandour, observa que a iniciativa é uma derivação da Agenda 21 do Comitê Olímpico Internacional.  
       Serandour nota que o desenvolvimento sustentável não é algo de aplicação imediata, mas “um modo de pensar, uma maneira atual de conceber e colocar em prática” as políticas públicas, inclusive as políticas do esporte. Ele acrescenta que a perspectiva adotada pela Agenda 21 do Esporte Francês pelo Desenvolvimento Sustentável é a da transversalidade e do planejamento, da preparação para o futuro.
       Com essa perspectiva o esporte pode seguir o princípio do desenvolvimento sustentável, que seria o de satisfazer as necessidades da atual geração sem comprometer as possibilidades das novas gerações em satisfazer as suas, segundo a definição da Comissão Brundtland, de 1987.
       Por sua vez, o presidente do Conselho Nacional de Esportes da Natureza da França, Maurice Bruzek, salientou que a Agenda 21 do Esporte Francês responde às três esferas clássicas do desenvolvimento sustentável: econômica, social e ambiental. Do mesmo modo, a Agenda 21 do Esporte Francês decorre da decisão do Comitê Olímpico Internacional, de considerar o meio ambiente como terceiro pilar do movimento olímpico, ao lado do esporte e da cultura.
      Bruzek observou que a Agenda 21 do Esporte Francês é fruto de uma reflexão coletiva, envolvendo confederações e federações esportivas, Universidades, ministérios e várias outras organizações. Várias empresas apoiaram a formulação da Agenda 21 do Esporte Francês. O documento foi entregue oficialmente ao ministro dos Esportes, Jean-François Lamour, a 18 de dezembro de 2003, em conferência sobre a Agenda 21 do Esporte Francês pelo Desenvolvimento Sustentável. Os princípios indicados na Agenda passaram a ser observados pelo conjunto da comunidade esportiva francesa a partir de 2004.
Os 21 grandes objetivos
      Para cada um dos 21 objetivos traçados pela Agenda 21 do Esporte Francês, foram indicadas propostas de pensamento e ação, por parte do conjunto da comunidade esportiva francesa.  Os 21 grandes objetivos foram divididos em quatro capítulos: (I) O Desenvolvimento Sustentável, uma nova abordagem das políticas esportivas; (II) A solidariedade esportiva em favor do desenvolvimento sustentável; (III) Gestão e organização do esporte em conformidade com o meio ambiente; e (IV) Economia esportiva em favor do desenvolvimento sustentável. Estes são os objetivos da Agenda 21 do Esporte Francês, de acordo com os quatro capítulos: 
        Capítulo I - O Desenvolvimento Sustentável, uma nova abordagem das políticas esportivas
       Objetivo 1 – Integrar o conceito de desenvolvimento sustentável nas políticas esportivas.
      Objetivo 2 – Promover os valores do desenvolvimento sustentável.
      Objetivo 3 – Engajar o movimento esportivo como um efetivo protagonista nas ações pelo desenvolvimento sustentável.
      Objetivo 4 – Integrar o desenvolvimento sustentável nas ações de cooperação esportiva em esfera nacional e internacional.
      Objetivo 5 – Elaborar um sistema de monitoramento e avaliação das ações esportivas de acordo com os princípios do desenvolvimento sustentável.
      Capítulo II - A solidariedade esportiva em favor do desenvolvimento sustentável
      Objetivo 6 – Combater a exclusão social pela prática do esporte.
      Objetivo 7 – Reforçar o papel do esporte a serviço da proteção e da promoção da saúde das pessoas.
      Objetivo 8 – Intensificar a luta contra o doping.
      Objetivo 9 – Estimular a prática esportiva de pessoas com deficiência.
     Objetivo 10 – Promover o acesso das mulheres à prática esportiva e a postos de direção.
     Objetivo 11 – Promover o esporte entre os jovens e melhorar sua inserção na vida associativa e nas instâncias de direção do esporte.
     Objetivo 12 – Respeitar as práticas esportivas tradicionais e regionais e promover o esporte como patrimônio da sociedade.
     Objetivo 13 – Prevenir e lutar contra todas as formas de violência no esporte.
     Capítulo III - Gestão e organização do esporte em conformidade com o meio ambiente
     Objetivo 14 – Integrar o capítulo meio ambiente nos programas de educação e formação esportivas
     Objetivo 15 – Promover uma gestão respeitosa dos territórios, paisagens e dos recursos naturais.
     Objetivo 16 – Conceber as instalações, equipamentos e materiais esportivos em conformidade com os princípios do meio ambiente e do desenvolvimento sustentável.
     Objetivo 17 – Gestão das manifestações esportivas de maneira responsável e em respeito aos preceitos do desenvolvimento sustentável.
     Objetivo 18 – Promover a utilização de meios de transporte econômicos em energia e não-poluentes
      Capítulo IV - Economia esportiva em favor do desenvolvimento sustentável
      Objetivo 19 – Promover modos de consumo integrados aos princípios do desenvolvimento sustentável.
     Objetivo 20 – Fazer do esporte uma fonte de riqueza para os territórios
    Objetivo 21 – Criação de empregos no esporte contribuindo com o desenvolvimento sustentável.    
PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS TEM ESTRATÉGIA
PARA VINCULAR ESPORTE AO MEIO AMBIENTE

      O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) elaborou uma estratégia de longo prazo para vincular esporte e meio ambiente, por meio da difusão da ética e dos valores ambientais em todos os níveis do esporte, inclusive do esporte recreativo. A iniciativa foi batizada de Estratégia Michezo, palavra que significa “esportes” e “jogo” no idioma kiswahili, presente na África Oriental e que mantém laços com outros idiomas. A Estratégia Michezo está em vigor desde 2003.
      Os objetivos centrais da Estratégia Michezo são a promoção da integração dos aspectos ambientais ao esporte; a utilização da popularidade dos esportes para promover a sensibilização do público, sobretudo dos jovens, sobre questões ambientais; e promover o aperfeiçoamento das instalações esportivas e métodos de fabricação de materiais esportivos respeitando as premissas da sustentabilidade.
      O PNUMA destaca a íntima ligação do esporte com a natureza. “Um meio ambiente saudável é necessário para o esporte saudável, e esta intimidade com a natureza é o que motiva e inspira muitos atletas”. Por outro lado, um meio ambiente degradado representa um obstáculo para a motivação das pessoas em praticar esportes e pode até colocar em perigo a realização de eventos esportivos.         
      As instalações de eventos e atividades esportivas também repercutem no meio ambiente, observa o PNUMA. As instalações e eventos esportivos contribuem no consumo de energia, para a emissão de gases de efeito-estufa e eliminação de resíduos,  tóxicos ou não, e também para a deterioração da camada de ozônio e do habitat e para a perda da diversidade biológica, a erosão do solo e poluição da água e do ar.
      A Estratégia Michezo complementa, sobre os impactos ambientais do esporte: “Os fabricantes de artigos esportivos e os grandes acontecimentos esportivos, como os Jogos Olímpicos, a Copa do Mundo de Futebol da FIFA e o Tour de France empregam a milhares de pessoas, compram e consomem recursos em grande escala, produzem milhões de bens de consumo, utilizam energia e água, geram resíduos sólidos, urbanizam terrenos e utilizam e operam frotas de veículos”. 
        O documento do PNUMA assinala que, em contrapartida, os esportes são uma das formas de lazer mais populares. E justamente por essa grande audiência, os participantes e/ou torcedores de esportes representam um importante meio de promoção de mensagens ambientais.
        É especial o papel dos atletas,  nota o PNUMA: “Milhões de pessoas admiram os esportistas de sucesso e os consideram arquétipos sociais. Estes arquétipos, que são admirados por valores como honradez, paixão pelo trabalho, espírito de equipe e cooperação, a disciplina, a dedicação, a dignidade e o respeito aos demais podem desempenhar uma função primordial para influenciar e estimular atitudes da sociedade relativas ao meio ambiente”.
       O PNUMA observa que seu trabalho com a relação entre esporte e meio ambiente começou em 1994, quando subscreveu acordo de cooperação com o Comitê Olímpico Internacional (COI). Foi dois anos depois, portanto, da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Eco-92, no Rio de Janeiro.
       Em 1994 o COI considerou o meio ambiente como terceiro pilar do movimento olímpico internacional, ao lado do esporte e da cultura. O COI também criou uma Comissão de Esportes e Meio Ambiente para assessorar o seu Conselho Executivo. Em parceria com o COI e várias confederações e federações esportivas, o PNUMA elaborou a Agenda 21 para o Esporte e o Meio Ambiente. PNUMA e COI são igualmente parceiros na realização bienal de conferências internacionais sobre esporte e meio ambiente, tema também de seminários regionais.
Áreas de atuação da Estratégia Michezo
       A Estratégia Michezo compreende quatro grandes áreas de atuação para o próprio PNUMA e outras instâncias do sistema das Nações Unidas, para promover e aprofundar os vínculos entre esporte e meio ambiente:
I – Participação na iniciativa do Secretário Geral:
      O PNUMA assume o compromisso de apoiar a equipe do Secretário Geral da ONU sobre Esportes para o Desenvolvimento e a Paz, nos esforços para ligar esporte e meio ambiente. O PNUMA também pretende ampliar laços com outros órgãos das Nações Unidas, para promover a ligação entre esporte e meio ambiente e na contribuição dessa ligação para o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, também conhecidos como Metas do Milênio e que têm seu prazo estipulado para 2015.
II – Promoção da sensibilização sobre questões ambientais por meio do esporte
1.     Iniciação de atividades ambientais por meio de esportes recreativos.
2.     Foco em eventos esportivos populares, para promover valores ambientais. Com esse objetivo, serão intensificadas as relações com os promotores de grandes eventos esportivos internacionais, como os já citados e também os Jogos Asiáticos e Jogos PanAfricanos, entre outros. 
3.     Designação de embaixador de boa vontade e representante especial para esporte e meio ambiente.
4.     Apoio a acampamentos de contato com a natureza e esportivos. O PNUMA criou um Acampamento Formativo para a Natureza e o Esporte para crianças de bairros pobres de Nairóbi, no Quênia. Outras iniciativas nessa linha serão apoiadas.
III – Fortalecimento do trabalho do PNUMA com organizações esportivas internacionais
1.     Aumento da cooperação com o COI.
2.     Cooperação com as cidades olímpicas.
3.     Estabelecimento de vínculos com a Associação Geral de Federações Esportivas Internacionais.
4.     Estabelecimento de vínculos com federações, associações e conselhos esportivos.
IV – Organização de eventos e publicações sobre questões da atualidade
1.     Organização do Fórum Mundial bienal sobre Esporte e Meio Ambiente, em cooperação com a Aliança Mundial para o Esporte.
2.     Organização de outros eventos esportivos. Caso da realização, desde 1998, no Japão, com a Fundação para a Paz Mundial e o Meio Ambiente, de um fórum internacional de tênis, incluindo mensagens ambientais.
3.     Fortalecimento da colaboração com a indústria de materiais esportivos.
4.     Publicação de material informativo sobre esporte e meio ambiente.
     A implementação da Estratégia Michezo está a cargo da Divisão de Comunicação e Informação Pública do PNUMA, em cooperação com escritórios regionais e outras divisões desse órgão da ONU. Uma atenção especial é dada para envolver a juventude na ligação entre esporte e meio ambiente em esfera global.
MOVIMENTO OLÍMPICO INTERNACIONAL PROMOVE
A AGENDA 21 DO ESPORTE PARA A SUSTENTABILIDADE

      Em outubro de 1999, na Terceira Conferência Mundial sobre Esporte e Meio Ambiente, realizada no Rio de Janeiro, foi lançada a Agenda 21 do Movimento Olímpico Esporte para o Desenvolvimento Sustentável. A construção da Agenda foi coordenada pela Comissão de Esporte e Meio Ambiente do Comitê Olímpico Internacional (COI).    
      Na apresentação do documento, o presidente do COI, Juan Antonio Samaranch, observou que o meio ambiente foi ratificado como o terceiro pilar do movimento olímpico internacional em 1994, ao lado do esporte e cultura. Era uma iniciativa em resposta aos debates na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Eco-92, de 1992, realizada no Rio de Janeiro.
       Samaranch destacou que o COI atendeu ao convite da Eco-92 de que organizações governamentais e não-governamentais formulassem sua própria Agenda 21, com base na Agenda 21 global, aprovada no Rio de Janeiro. O presidente do COI faz então o seu próprio convite para que o movimento olímpico, esportistas e outras pessoas ligadas ao esporte que atendessem às recomendações da Agenda 21 do Movimento Olímpico, em conformidade com sua própria cultura, crenças e tradições.
       Já Klaus Topfer, diretor-executivo do PNUMA, parceiro do COI na formulação da Agenda 21 do Movimento Olímpico, salientou por sua vez que o esporte implica em um código de ética com valores próprios, incluindo a competição limpa, o respeito e a amizade. O esporte também é um meio educativo para formar ser humanos melhores, superando barreiras artificiais de raça, classe social ou outras.
       Da mesma maneira, frisou Topfer, a questão ambiental transcende fronteiras e ideologias. “Todos são membros da comunidade ambiental global”, citou, sublinhando a importância do esporte, com seu poder mobilizador, para envolver a comunidade esportiva e as pessoas em geral para os desafios ambientais globais.
      O diretor da Comissão de Esporte e Meio Ambiente do COI, Pal Schmitt, concluiu as apresentações da Agenda 21 do Movimento Olímpico. O documento, segundo Schmitt, acentua as preocupações do movimento olímpico com os desafios do desenvolvimento sustentável e indica as responsabilidades dos diferentes membros desse movimento para com a conquista da sustentabilidade. A Agenda 21 do Movimento Olímpico deveria ser vista, então, como um documento de trabalho, denotando a responsabilidade com o bem estar e a sobrevivência das futuras gerações.
Objetivos da Agenda 21 do Movimento Olímpico
      A Agenda 21 do Movimento Olímpico inclui objetivos relacionados a cada um dos capítulos da Agenda 21 global, aprovada na Eco-92. A Agenda 21 do Movimento Olímpico apresenta, portanto, interface com as dimensões econômica, social e ambiental, incluídas na Agenda 21 global.
     O Capítulo 1 é dedicado aos Princípios Gerais, como o do próprio desenvolvimento sustentável, indicado pela Comissão Brundtland e consolidado na Rio-92. O Capítulo 2 aponta o objetivo geral da Agenda 21 do Movimento Olímpico, que seria o de indicar sugestões para os diferentes envolvidos com o esporte inserirem os princípios do desenvolvimento sustentável em suas políticas.
     No Capítulo 3 estão indicados os três grandes objetivos do Programa de Ação do Movimento Olímpico para promover o desenvolvimento sustentável: promover condições sócio-econômicas; promover a conservação e manejo dos recursos naturais para o desenvolvimento sustentável; e sugerir o papel dos grupos principais envolvidos com o esporte.
     Em termos de promoção de condições sócio-econômicas sustentáveis, a Agenda 21 do Movimento Olímpico propõe que os diferentes grupos envolvidos com o esporte auxiliem no combate à exclusão, na mudança de hábitos de consumo, na proteção da saúde, na melhoria dos assentamentos humanos e habitação e na integração do conceito de sustentabilidade nas políticas esportivas.
     Na dimensão da promoção da conservação e manejo de recursos naturais, a Agenda 21 do Movimento Olímpico sugere que os grupos envolvidos com esporte colaborem na formulação de uma metodologia de ação ambiental para o movimento olímpico, na proteção de áreas de conservação, no uso eficiente e sustentável dos equipamentos esportivos, na energia gerada e consumida de forma sustentável, no transporte sustentável, na gestão adequada de resíduos e produtos perigosos, na gestão apropriada da água, na preservação da biodiversidade e dos ciclos naturais da biosfera.
      Em termos do papel dos grupos principais, a Agenda 21 do Movimento Olímpico destaca o papel especial das mulheres, da juventude, das populações indígenas. O Capítulo 4 da Agenda 21 do Movimento Olímpico resume a Terceira Conferência sobre Esporte e Meio Ambiente promovida pelo COI, no Rio de Janeiro, entre 21 e 24 de outubro de 1999, quando o próprio documento foi aprovado.
      Participaram da Conferência do Rio de Janeiro representantes do COI, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), a Organização Mundial da Saúde (OMS), Comitê Internacional da Cruz Vermelha, Greenpeace, WWF, 19 federações esportivas internacionais, 93 comitês olímpicos nacionais, entre outros. A Agenda 21 do Movimento Olímpico inspirou muitas ações, como a Agenda 21 do Esporte Francês pelo Desenvolvimento Sustentável, que passou a vigorar em 2004.

  ESPORTE E SUSTENTABILIDADE, UMA PARCERIA
COM HISTÓRIA EM CONSTRUÇÃO E MUITO FUTURO

      O esporte tem reconhecida e historicamente uma relação muito próxima com questões culturais e sociais. Atividade saudável por excelência, e envolvendo um código de ética com valores muito positivos, o esporte sempre foi um território privilegiado para a defesa da paz, da tolerância e da diversidade cultural.
      É muito citado o caso da participação de Jesse Owens nas Olimpíadas de Berlim, em 1936, quando suas vitórias demoliram na prática a ideologia da superioridade racial dos nazistas – três anos depois começaria a dolorosa Segunda Guerra Mundial, tendo a capital alemã como epicentro.
    Do mesmo modo, é muito citado o caso do país, o Congo Belga, que parou a guerra civil de 1969 por causa de Pelé, quando o Santos fez uma excursão naquele país. Recentemente, a seleção brasileira de futebol também participou da cooperação que o país mantém com o Haiti.
     Durante a Copa de 1978, as Madres de La Plaza de Mayo ficaram ainda mais conhecidas, pela presença na Argentina de jornalistas de vários países que tomaram conhecimento e passaram a divulgar a causa das mães em busca de seus filhos desaparecidos. 
      Recentemente, muitos clubes de futebol acentuaram suas ações sociais. Caso do Barcelona, pioneiro em defender na própria camisa a causa do Unicef. As campanhas contra o racismo e pelo fair play, lideradas pela FIFA, têm alcançado grande repercussão na mídia e na sociedade em geral.
A motivação da Eco-92 e da Agenda 21
     A interface entre esporte e meio ambiente é mais recente. O episódio que intensificou essa parceria de enorme potencial foi a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Rio-92 ou Eco-92, realizada no Rio de Janeiro, em junho de 1992.
      Foi a maior reunião já realizada sobre meio ambiente e desenvolvimento de todos os tempos. Participaram mais de 180 chefes de Estado e/ou governo. Também foi realizado, paralelamente, nas duas primeiras semanas de junho de 1992, o Fórum Global, reunindo representantes de organizações da sociedade civil planetária. A partir daí todas as grandes Conferências da ONU tiveram presença maciça de ONGs.
        Na Conferência oficial, no Riocentro, foram aprovados cinco documentos fundamentais para o planeta: Convenção das Mudanças Climáticas, Convenção da Diversidade Biológica, Declaração de Florestas, Carta da Terra e Agenda 21. São os documentos que orientam as principais discussões ambientais da atualidade, como as relacionadas às mudanças climáticas e à luta contra o desmatamento e pela proteção da biodiversidade.
       A Agenda 21, caso especial, é um documento imenso, com mais de 800 páginas. Nelas estão contidos os princípios e metas que devem ser perseguidas para a conquista do desenvolvimento sustentável, que é o desenvolvimento com justiça social e respeito aos recursos naturais, em benefício das atuais e das futuras gerações. O desenvolvimento sustentável também pressupõe o fortalecimento da autonomia e da cultura local, de cada comunidade. Daí a Agenda 21 ser um compromisso ético com o futuro da humanidade e o planeta.
      A Agenda 21 está estruturada em 40 capítulos, por sua vez agrupados em quatro seções, precedidas de um Preâmbulo que constitui o Capítulo I do documento. O Preâmbulo dá as linhas gerais do documento e  a Seção I trata das Dimensões Econômicas e Sociais do desenvolvimento sustentável.
     A Seção I é a prova, então, de que a Agenda 21 não trata apenas de questões ambientais, como geralmente se pensa.  A Seção II trata dos aspectos ambientais propriamente ditos. A Seção III, dos chamados grupos principais. E a Seção IV, dos Meios de Implementação.
     A Agenda 21 é o documento fundamental para o entendimento do conceito de desenvolvimento sustentável, que já havia sido defendido pela Comissão Brundtland, que em 1987 divulgou o Relatório Nosso Futuro Comum. A partir da Agenda 21 e da Eco-92 foi intensificada a consciência da sociedade mundial sobre as responsabilidades específicas de cada segmento com um modelo de desenvolvimento que promova a geração de renda e riqueza com justiça social e a proteção dos recursos naturais, satisfazendo as necessidades da atual geração sem comprometer a capacidade das próximas gerações de satisfazer as suas.
Avanços em esporte e sustentabilidade
   O Comitê Olímpico Internacional (COI) foi rápido em perceber a relevância da discussão sobre a sustentabilidade, reforçada pela Eco-92 e já indicada pelo Relatório Nosso Futuro Comum, o Relatório Brundtland, de 1987, que consagrou a definição clássica de desenvolvimento sustentável, aquele que preserva os recursos naturais para as futuras gerações.
      Já em 1996 o COI inseriu, em sua Carta Olímpica, o meio ambiente como terceiro pilar do movimento olímpico internacional, ao lado do esporte e da cultura. E desde então, existe a preocupação com a sustentabilidade na realização de todos eventos olímpicos, no sentido de que os países candidatos a recebê-los apresentem soluções efetivas para os problemas de ordem ambiental, social, econômica ou cultural que esses eventos ocasionem. Uma preocupação especial diz respeito ao legado dos eventos olímpicos, ao que eles representarão de positivo para as comunidades locais, após os jogos.
     Em 1999, um passo à frente, com a formulação da Agenda 21 do Movimento Olímpico, promovida pelo COI e incluindo a sugestão do Comitê Olímpico Internacional para que os princípios do desenvolvimento sustentável fossem incorporados por todos os protagonistas do movimento olímpico. 
       Neste cenário, desde 2000, com os Jogos Olímpicos de Sidney, passaram a ser tomadas medidas concretas relacionadas à sustentabilidade, inicialmente de forma voluntária por parte do comitê organizador das competições na Austrália. E com efeito as Olimpíadas de Sidney foram um marco, pelo que representaram de inovações em termos da sustentabilidade e de espaço para muitas discussões ambientais e sociais.
      Áreas naturais protegidas e áreas indígenas estiveram na rota de revezamento da Tocha Olímpica na Austrália. Na rota da Tocha Olímpica houve um gigantesco plantio de árvores nativas. As oito estações com previsões meteorológicas no espaço dos Jogos Olímpicos de Sidney foram movidas com energia solar. A poluição da baia de Sidney, espaço para várias competições, foi reduzida com medidas específicas em saneamento.
     Chamou atenção especial a decisão do comitê organizador de transferir instalações contendo quadra de tênis e anfiteatro, que seriam construídas em função das Olimpíadas. A transferência foi motivada pela descoberta, no local originalmente previsto para receber as instalações, na baía de Homebush, de uma colônia de Rãs de Sino Verde e Dourada, espécie ameaçada de extinção em território australiano. Desde então, a espécie de rã virou uma paixão nacional – o anfibio tem as cores oficiais da Austrália, verde e amarelo. As Olimpíadas seguintes aprimoraram os cuidados com a sustentabilidade.
       Em 2003, o Programa das Nações Unidas sobre Meio Ambiente (PNUMA) patrocinou, em conjunto com o COI, a publicação de uma Agenda 21 para o Esporte e o Meio Ambiente, com várias e consistentes propostas nessa área. A iniciativa foi fruto da Estratégia Michezo (Estratégia de longo prazo sobre Esporte e Meio Ambiente), formulada pelo PNUMA. A Agenda 21 do Esporte e Meio Ambiente, do PNUMA e COI, foi amplamente difundida entre federações e associações esportivas internacionais e Comitês Olímpicos nacionais.   Desses esforços resultou, por exemplo, a Agenda 21 do Esporte Francês em favor do Desenvolvimento Sustentável. A Espanha concebeu uma Estratégia Nacional sobre Esporte e Sustentabilidade, fruto de parceria entre Green Cross Espanha e Fundación Biodiversidad, com a colaboração do Conselho Superior de Deportes e Comitê Olímpico da Espanha.           
        Os Jogos de Atenas, de 2004, já incorporaram princípios da sustentabilidade em todas suas etapas e instalações, e o mesmo nos Jogos de Pequim, em 2008. Em Pequim um desafio especial foi em relação à poluição atmosférica produzida pela queima de combustíveis fósseis. Os Jogos Olímpicos de Inverno de Turim, de 2006, receberam o Selo Verde do Programa das Nações Unidas sobre Meio Ambiente (PNUMA), pelos critérios que adotou em sustentabilidade. O evento também foi o primeiro a ser certificado com a norma ISO 14001 e no Sistema Europeu de Gestão Ambiental Eco-Management and Audit SCheme (EMAS).  O evento contou com um sistema de indicadores para avaliar ciclo da água, qualidade do ar, uso do solo, consumo de energia, redução de lixo, ecossistemas, paisagem e ambiente urbano. Uso de transporte sustentável, construção de instalações com materiais não-contaminantes e construções com princípios bioclimáticos também foram empregados nos Jogos Olímpicos de Inverno de Turim. 
      Os Jogos Olímpicos de Londres, em 2012, representarão um grande salto em termos de observação de princípios da sustentabilidade na construção e adaptação de instalações esportivas e no momento das competições. O evento foi o primeiro a elaborar um relatório de sustentabilidade, utilizando os princípios do GRI – Global Reporting Initiative. A Política de Sustentabilidade desenhada para as Olimpíadas de Londres contemplou cinco áreas principais: promoção da inclusão social por meio de programas educativos e geração de emprego e renda na área que estava degradada e foi recuperada para sediar a competição;  redução, reuso e reciclagem de resíduos; implantação de um sistema de transporte sustentável, reduzindo os gases de efeito-estufa; estímulo ao esporte para promover estilos de vida saudáveis e sustentáveis; e conservação do meio ambiente e recursos naturais.  
     A expectativa do COI e outras organizações envolvidas, como o próprio PNUMA, é a de que os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, de 2016, dêem novos passos à frente. Ao apresentar a candidatura, o Rio de Janeiro batizou o evento como Jogos Verdes para um Planeta Azul (“Green Games for a Blue Planet”). As demais foram Chicago (Jogos Verdes e Azuis, “Blue-Green Games”) e Madri (Jogos Verdes e Felizes, “Happy Green Games”).
      Inovações, demonstrando o avanço tecnológico em sustentabilidade, foram inseridas pelas candidaturas aos Jogos Olímpicos de Inverno de 2018. Annecy (França) se comprometeu a utilizar 100% dos resíduos não reciclados gerados nos Jogos. Esses resíduos seriam transformados em energia, por meio de um sistema vinculado à rede urbana de calefação. A mesma Annecy e Pyeongchang (Coreia do Sul), escolhida a cidade-sede, apresentaram a meta de que 100% da energia elétrica utilizada nos Jogos sejam provenientes de fontes renováveis. E Munique propôs a criação de um Centro Interdisciplinar de Sustentabilidade.    
       Outras iniciativas na mesma área são as Conferências Internacionais de Esporte e Desenvolvimento, com ampla participação das agências das Nações Unidas. A primeira Conferência foi entre 16 e 18 de fevereiro de 2003, em Magglingen, na Suíça. Fruto do encontro foi a Declaração Magglingen, na qual os participam expressam a defesa do esporte como direito básico e convoca todos os envolvidos com o esporte a promover o desenvolvimento sustentável, a paz, os direitos humanos, a saúde e a infância. A Declaração foi divulgada em âmbito global pelo então secretário-geral da ONU, Kofi Annan.
       A FIFA também tem participado de forma crescente do debate sobre esporte e sustentabilidade. As Copas do Mundo de Futebol têm cada vez mais incorporado iniciativas ligadas à sustentabilidade. A Copa de 2014, no Brasil, será momento especial nesse sentido.
       A FIFA mantém o programa Green Goal, que  promove a redução e compensação de emissões de gases de efeito-estufa em seus eventos e a gestão sustentável dos resíduos e do uso da água e estímulo a transporte coletivo. Várias medidas nesse sentido serão tomadas em relação às cidades-sede da Copa de 2014 no Brasil.
      Com a Copa de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro, onde também serão realizados os Jogos Paraolímpicos, o Brasil tem, enfim, oportunidade histórica para consolidar esse “time” de grande futuro, entre esporte e sustentabilidade. Um “time” que pode jogar para a vitória da vida. (Por José Pedro S.Martins)