quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Brasil não pode perder chance histórica com Copa de 2014 e Olimpíadas de 2016

Atividade artística em escola no interior de São Paulo: educação deve ser prioritária em termos do legado social que a Copa de 2014 e Olimpíadas de 2016 podem representar para o Brasil


Por José Pedro Martins



Crise no Ministério do Esporte, enorme controvérsia envolvendo a construção do "Itaquerão" para a abertura da Copa de 2014 em São Paulo, atrasos de obras em estádios em algumas cidades-sede, greve que já atingiu a construção do "novo" Maracanã, divergências sobre a Lei Geral da Copa. O Brasil pode estar perdendo uma chance histórica, em função de sediar, no pequeno espaço de dois anos, a Copa do Mundo (em 2014) e as Olimpíadas (em 2016). Chance histórica no sentido de, a partir desses megaeventos, promover o esporte como uma grande plataforma para o desenvolvimento sustentável, o combate à fome, o desenvolvimento regional, o fortalecimento do turismo, entre outras áreas, como a, talvez, mais importante de todas, a do legado social, envolvendo necessariamente a educação.

O Brasil perderá esse oportunidade histórica, dessas que apenas acontecem "uma vez na vida", se o foco relacionado à Copa de 2014 (e Copa das Confederações) e Olimpíadas de 2016 (e também Paraolimpíadas, no mesmo ano) for mantido apenas na área da política partidária e das competições em si, não sendo os eventos utilizados como plataformas, como indutores, para políticas públicas transformadoras. O esporte, com seu poder de sedução, sua visibilidade, sua capacidade de mobilizar milhões, é um território privilegido para promover a educação, a cultura, o turismo, a proteção e uso sustentável dos nossos privilegiados recursos naturais.

E não se pode esquecer que, "de quebra", o Brasil também sedia, em 2012, a Rio+20, a grande conferência das Nações Unidas que pretende ser um marco em termos de promoção da economia verde, de estabelecimento de novos paradigmas para o desenvolvimento global. São eventos importantes demais, abrangentes demais, para que o debate em torno deles fique reduzido a questões partidárias e/ou econômicas envolvendo apenas as competições em si.

A sociedade brasileira deseja toda a transparência na condução dos planos e ações relacionados às competições (transparência é um imperativo da sustentabilidade). Também deseja, no momento, total esclarecimento sobre as questões ligadas à crise no Ministério do Esporte. E também é essencial que haja a ampliação do debate sobre a possibilidade do esporte, em razão desses megaeventos, contribuir para o Brasil dar um salto definitivo rumo à qualidade de vida, ao respeito dos direitos integrais, em benefício de todos os brasileiros. A Espanha e, em particular, Barcelona mudaram radicalmente após os Jogos Olímpicos de 1992. O mesmo pode ser dito em relação a outros países e/ou cidades-sede desses grandes eventos, com raras exceções, em que o legado não foi tão bom assim.

O Brasil sairá campeoníssimo desses grandes eventos se, ao lado de transparência e zelo total na condução das ações e manejo de recursos públicos relacionados à Copa e Olimpíadas, o legado social e ambiental das competições for efetivamente transformador, apontar para o futuro, indicar um caminho de esperança para as atuais e futuras gerações. São muitos eventos importantes em pouco espaço de tempo. O Brasil que já perdeu a chance de liderar o debate global sobre sustentabilidade após a Eco-92 tem agora, de novo, um grande trunfo nas mãos. Que esse presente, que na realidade se refere ao futuro, não escorregue de suas mãos. (José Pedro Martins é jornalista e escritor, autor entre outros livros de "Jogo Verde, Jogo Limpo -100 propostas para uma Agenda 21 Brasil do Esporte pela Sustentabilidade, o Turismo Sustentável, a Paz e a Diversidade Cultural")

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