domingo, 23 de outubro de 2011

Copa 2014, Olimpíadas 2016 e a crise da água no Brasil

Rio Piracicaba seco em agosto de 2011:

signo da luta pela água limpa e para todos


A Rio+20 em 2012, a Copa 2014 e as Olimpíadas em 2016 são momentos estratégicos para uma grande reflexão sobre o status e o futuro da água em território brasileiro. O Brasil tem 12,5% da água doce do mundo, sendo portanto privilegiado em recursos hídricos. Entretanto, em função do processo de desenvolvimento do país, que concentrou a maior parte da população no Sul-Sudeste, há uma má distribuição da água para os brasileiros. Cerca de 80% da água doce estão na Amazônia, onde vivem 10% da população, enquanto em São Paulo, que tem 20% da população, existem menos de 3% dos recursos hídricos. Resultado, a Grande São Paulo e a Região Metropolitana de Campinas enfrentam problemas sérios com qualidade e quantidade da água. Essas duas regiões têm alguns dos rios mais poluídos do país, como o Tietê e o Pinheiros na Grande São Paulo e o Piracicaba, Atibaia e Quilombo, na altura da RMC. Além disso, em todo país há um enorme déficit no saneamento básico, com menos de 50% dos esgotos urbanos tratados. Em muitas capitais existe déficit até na coleta de esgoto.


Os grandes eventos dos próximos anos podem contribuir para a urgente transformação do panorama do saneamento e da água no Brasil. Em primeiro lugar, é imperativo que nas 12 cidades-sede haja um grande avanço na coleta e tratamento dos esgotos urbanos. Faz sentido que São Paulo, cidade mais populosa e rica do país, abra a Copa de 2014 ainda sem completo tratamento de esgoto urbano? O mesmo, claro, em relação às outras cidades-sede e subsedes.


Os eventos também podem ser indutores de boas práticas no manejo da água e saneamento, servindo de exemplo e espelho para a população. Os estádios e outros locais das competições devem possuir sistemas de economia e reuso de água, do mesmo modo que oferecer infraestrutura para a coleta seletiva, visando a reciclagem dos resíduos.


Cuidados especiais devem ser mantidos com o manejo de água das piscinas, evitando-se o desperdício, as más condições sanitárias e o uso indevido de produtos químicos. Cuidados especiais igualmente com sistemas de irrigação de campos de grama, utilizados em modalidades como futebol, tênis e outras. Construção de sistemas para captação de água da chuva para usos eventuais em instalações esportivas podem ser bons exemplos.


A FIFA e o Comitê Olimpico Internacional (COI) têm incluído a preocupação com a água e o saneamento no exame de candidaturas às Copas do Mundo e Jogos Olimpícos. Por causa de sua candidatura às Olimpíadas de 2016, Chicago formulou um programa batizado de Water Market, para compensar financeiramente o uso sustentável da água. Perdeu a candidatura para o Rio de Janeiro, mas o programa permanecerá. Os grandes eventos esportivos que o Brasil sediará podem ser fundamentais para uma maior conscientização e ações a respeito da água e saneamento no país, por sua vez contribuindo para a construção de uma Agenda 21 do Esporte. (José Pedro Martins, com informações do meu livro, "Jogo Verde, Jogo Limpo - 100 propostas para uma Agenda 21 Brasil do Esporte pela Sustentabilidade, o Turismo Sustentável, a Paz e a Diversidade Cultural, Editora Komedi, 2011).


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