quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Brasil, ONGs e sociedade civil podem "salvar" a Rio+20

Elas celebram a beleza da vida no borboletário do SESC Pantanal:

o Brasil de novo no centro do debate sobre o futuro global


Por José Pedro Martins



"Jamais a Europa esteve tão próximo da explosão" disse ontem, 25 de outubro, Nicolas Sarkozy sobre a situação econômica europeia. O temor é o de que uma eventual falência da Itália também leve os outros grandes para o redemoinho, que já está fazendo marolas pesadas. Nesse clima, e com Obama muito voltado para a situação interna e para sua reeleição, é natural a atmosfera de desânimo em relação à Rio+20, ano que vem, no Brasil.

As questões da sustentabilidade em geral, e climáticas em particular, definitivamente não estão no momento entre as prioridades dos governos. Uma prévia do que pode ser a Rio+20 é a próxima conferência das partes da convenção do clima, entre 28 de novembro e 9 de dezembro em Durban, África do Sul. Em pauta a renovação ou não do Protocolo de Kyoto. Canadá, Japão e Rússia já disseram que não vão renovar o seu compromisso. O argumento é que os países emergentes, em especial a China, não querem assumir compromissos com redução dos gases-estufa. E a China já é a maior emissora, ultrapassando os Estados Unidos.

Enfim, o humor dos governos em relação às questões da sustentabilidade global será testado em Durban. Justamente esse momento de pré-pânico econômico pode indicar novos rumos, mais favoráveis, para a Rio+20, e nesse sentido o Brasil, junto com as ONGs e sociedade civil global, jogam papel fundamental. O movimento global pró-democracia participativa, direta, que está questionando as estruturas de poder internacionais, particularmente das corporações financeiras, é um alimento importante para que a Rio+20 seja auspiciosa em termos de acordos e compromissos de fato para o futuro. Acordos que devem incluir as sociedades, os povos, pois aqueles estabelecidos na esfera de governos, já se viu, são insuficientes.

Pois nada melhor do que pensar o futuro na atual crise global. Uma aceleração da chamada economia verde pode ser uma das portas de fuga, inclusive, da atual crise global. Mas uma economia verde que represente a alteração de muitas estruturas vigentes, e não mais apenas mudanças cosméticas. Reflexões, em resumo, essenciais, no atual momento global e na proximidade da Rio+20. E tudo isso nas vésperas do planeta chegar a 7 bilhões de pessoas, o que deve acontecer no próximo dia 31 de outubro, pelos cálculos das Nações Unidas. Continuará o atual ritmo insustentável, consumidor de vidas humanas e devastador de biodiversidade e recursos naturais?

No caso do Brasil, ele terá um papel essencial na Rio+20, ajudando a "salvar" a conferência se de fato adotar uma posição corajosa. No dia seguinte ao "Mundo 7 bilhões", portanto a 1 de novembro, o Brasil entregará para a ONU suas propostas oficiais para a Rio+20. Recente consulta pública, feita pelo Ministério do Meio Ambiente, indicou que a sociedade civil quer o Brasil como forte protagonista no evento no Rio de Janeiro, em junho do ano que vem.

O Brasil realmente pode assumir essa liderança, o que já poderia ter feito pelo menos desde 1992, por ocasião da Rio-92 ou Eco-92, o evento que mudou a visão global sobre o planeta e o chamado desenvolvimetno sustentável. O país que tem 12,5% da água doce, a maior biodiversidade de flora e fauna e uma das maiores biodiversidades culturais e étnicas representa há muito uma mensagem de esperança para a comunidade global. O Fórum Social Mundial foi um renovar dessas esperanças, mas a prioridade que tem sido dada ao crescimento econômico, em detrimento da preservação e uso sustentável de nossos gigantescos recursos naturais, minou a possibilidade de liderança global em sustentabilidade. Liderança que demanda coragem, ousadia. O projeto de Belo Monte, foco de sérias críticas de ambientalistas e cientistas ao governo, é um complicador no contexto. O gesto do governo, de não comparecer na audiência da Organização dos Estados Americanos sobre Belo Monte, não ajudará em nada a resolver o impasse.

Enfim, o Brasil tem a enorme, histórica, oportunidade de se consolidar como líder global em sustentabilidade, em razão da Rio+20. A Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016 podem ajudar muito nesse processo. Mas dependerá de uma ação firme, ousada, com pensamento voltado nas futuras gerações, uma atitude de estadistas por parte dos atuais governantes. A sociedade civil e as ONGs farão (e já estão procurando fazer) a sua parte.

(José Pedro Martins é jornalista e escritor, autor entre outros dos livros "A Década Desperdiçada - O Brasil, a Agenda 21 e a Rio+10", "Agenda 21 Local para uma ecocivilização" e "Jogo Verde, Jogo Limpo - 100 propostas para uma Agenda 21 Brasil do Esporte pela Sustentabilidade, o Turismo Sustentável, a Paz e a Diversidade Cultural").

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