A vinculação entre esporte e meio ambiente começou com força dois anos depois da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Rio-92, no Rio de Janeiro. Em 1994, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) assinou acordo de cooperação com o Comitê Olímpico Internacional (COI), que neste mesmo ano incluiu o meio ambiente como o terceiro pilar do movimento olímpico, ao lado do esporte e da cultura.
Em outubro de 1999, na Terceira Conferência Mundial sobre Esporte e Meio Ambiente, realizada no Rio de Janeiro, foi lançada a Agenda 21 do Movimento Olímpico Esporte para o Desenvolvimento Sustentável. Medidas concretas relacionadas à sustentabilidade passaram a ser tomadas a partir dos Jogos Olímpicos de Sidney, na Austrália, em 2000. (Ver mais sobre História da relação Esporte e Sustentabilidade na coluna História: http://esporteesustentabilidadenobrasil.blogspot.com.br/p/historia.html)
O projeto de Londres 2012 - Desde a concepção da candidatura, Londres considerou a possível realização dos Jogos Olímpicos como uma excelente oportunidade para estimular a economia local, gerando renda e emprego, a partir da transformação da área mais degradada da cidade, na região Leste, a East London. E a reconstrução deveria seguir princípios da sustentabilidade, segundo os responsáveis pela candidatura.
Uma das medidas tomadas para garantir esse legado de sustentabilidade foi a criação da Comissão para uma Londres-2012 Sustentável, que atuaria no monitoramento das medidas tomadas, com a postura de ser um "amigo crítico". Comentários temáticos e relatórios sobre vários aspectos foram produzidos pela Comissão, cujo mandato expira no início de 2013, após um amplo balanço do que aconteceu de fato em termos de sustentabilidade relacionado aos Jogos Olímpicos e Paraolimpíadas.
Quando Londres se candidatou a sediar os Jogos de 2012, a cidade já havia se comprometido a criar um órgão para o controle independente da sustentabilidade. A Comissão foi então criada em 2007. Um conjunto de 233 recomendações foi feito pela Comissão, que passou a acompanhá-las e a divulgar trimestralmente o status de sua aplicação pelo comitê organizador dos Jogos Olímpicos.
No último balanço trimestral, divulgado um mês antes do início dos Jogos de Londres, a Comissão considerou que tinham sido consideradas satisfeitas 155 recomendações até aquele momento. Foram recomendações relacionadas ao planejamento e execução de medidas concretas para garantir o legado de sustentabilidade dos Jogos Olímpicos, em torno dos cinco eixos principais do Plano de Sustentabilidade Londres-2012: Mudanças Climáticas, Resíduos, Biodiversidade, Inclusão e Vida Saudável. A Comissão considerou nesse levantamento que em relação a outras 46 recomendações haviam sido observados progressos.
Entre as recomendações satisfeitas, estava aquela que, para a Comissão, seria chave para que o Plano de Sustentabilidade fosse executado da melhor forma possível. Era a recomendação de as várias organizações governamentais e não-governamentais com incidência no East London (como a Agência Ambiental, Natural England e Hidrovias Britânicas) buscassem atuar de forma conjunta, visando garantir ações coordenadas, mas sempre com uma postura crítica. Como fruto dessa atuação conjunta, deveria ser formulado um plano de futuro para o Lea Valley, de modo que a infraestrutura implantada dê resultados positivos em termos ambientais, sociais e econômicos para a cidade como um todo e para essa região em particular.
No último balanço trimestral, a Comissão também considerou que algumas recomendações feitas estavam sob risco de não serem cumpridas, tais como: viabilidade da compostagem de algumas embalagens desenvolvidas para serem utilizadas durante a competição, implementação adequada da estratégia de gestão de energia e plano de conservação visando a redução das emissões de carbono durante os jogos e compartilhamento, para além da "família do Comitê Olímpico Internacional", da aprendizagem derivada do legado de sustentabilidade de Londres-2012, de modo a que a indústria de eventos otimize, em outras competições no Reino Unido e em todo mundo, os recursos aplicados nos Jogos Olímpicos deste ano.
Saltos no plano de sustentabilidade - De qualquer modo, a Comissão para uma Londres-2012 Sustentável considerou que foram verificados avanços em relação a outras Olimpíadas. Algumas áreas em destaque:
Área |
Londres 2012 |
Pequim 2008 |
Atenas 2004 |
Sidney 2000 |
Mobilidade |
Garantia de
100% de acesso aos jogos por transporte público, com melhorias significativas
no transporte ferroviário e por ônibus |
Cinco novas
linhas de metrô, implantação do 4º e 5º anéis viários. |
Melhorias
gerais no transporte público, incluindo eco-ônibus, nova linha de metrô,
linha de trem e novo aeroporto internacional |
Novas
linhas para o parque. |
Design
inclusivo |
Todos
espaços projetados com os princípios do design inclusivo |
Espaços
concebidos com padrões contemporâneos |
Sem
informação |
Requisitos
para a inclusão observados em todos espaços |
Criação de
uma nova vizinhança ou revitalização da existente |
Regeneração
do Baixo Lea Valley no East London, que está no coração do projeto olímpico.
Planos foram formulados para o futuro da área |
Venda por
atacado, visando novos usos, de grandes parcelas de terras no centro da
cidade, com realocação de milhares de famílias no subúrbio |
Localização
dos Jogos Olímpicos dependeu das terras existentes, não havendo estratégias
de revitalização |
Uma nova
cidade foi planejada para 10 anos depois dos Jogos. A Vila Olímpica tornou-se
um novo subúrbio |
Infraestrutu-ra
em energia renovável |
Metas de
energias renováveis não cumpridas
devido a falha técnica da proposta tecnológica para o território dos eventos.
No entanto, medidas compensatórias foram tomadas no lugar e superadas |
Compromisso
de instalar rede geotérmica de
aquecimento para cobrir 16 milhões de metros quadrados. Vários locais
equipados com energia geotérmica, fontes de água e ar provenientes de bombas
de calor e sistemas de energia solar fotovoltaica |
Sem energia
solar fotovoltaica incorporada aos locais de encontro. Abordagem convencional
de design em todos os locais. Sem medidas de economia de água |
Vila
Olímpica e alguns locais incluindo energia solar fotovoltaica. Medidas de
economia de água, incluindo uma estação de tratamento (WRAMS) que também
fornece energia renovável |
Redução de
carbono |
Meta de
redução de 50% do carbono das operações na infraestrutura criada foi
excedida, embora com medidas de compensação fora deste território |
Impostos
mais altos aplicados aos veículos maiores. 90% dos ônibus e 70% dos táxis
usaram gás natural |
Sem
informação |
Sem
informação |
Qualidade
do ar |
Meta de
redução média de 30% dos congestiona-mentos através do aumento das caminhadas,
ciclismo e do uso de transportes públicos |
Fechamento
de usina siderúrgica pesada na cidade, redução do número de veículos mais
antigos nas estradas, restrições ao uso de veículos observadas nos Jogos
estendidas em 12 meses após o evento |
Campanha
para aumento da consciência pública visando diminuir o número de carros |
Sem metas
específicas, mas o grande uso de transporte publicou reduziu o impacto do uso
de veículos particulares |
Metas em
resíduos |
Principal compromisso de que os Jogos sejam um
catalisador para a infra-estrutura de resíduos em East London não será alcançada. Contudo, metas substanciais
relativas aos resíduos foram observadas durante a fase de construção e durante
os Jogos |
Meta de que,
em 2005, 96% de todos os resíduos e
águas residuais seriam eliminados de
forma segura e tratados. |
Sem
atividades de reuso de material e reciclagem |
90% dos
materiais usados ou reciclados no próprio site. Política de embalagem para
resíduos de alimentos |
Materiais
de construção |
Varias
metas definidas quanto ao uso de materiais ambientalmente sensíveis e de reutilização de materiais em construção. As
metas foram cumpridas |
Não houve,
mas foi feito um esforço relacionado ao uso de materiais em todas as fases de
construção. Houve por exemplo um programa para eliminação progressiva dos
gases que afetam a camada de ozônio e uso de materiais compostos de madeira
para fabricação de mobiliário |
Sem informação |
Política de
materiais ambientalmen-te sensíveis como PVC e madeira |
Infraestrutu-ra
de resíduos |
Estação de
tratamento de água residual que limpa e recicla água não potável foi
construída no local |
Meta
declarada de construção de 14 novas estações de tratamento de águas residuais
|
Remediação
de antigo aterro sanitário |
Antigo
aterro nivelado e equipado com captura de gás metano, mas infra-estrutura não foi ativamente
implantada |
Plano de
biodiversi-dade |
Claro plano
de ação em biodiversidade visando substituir a diversidade de espécies que
foi perdida durante a construção e melhoria da biodiversidade no território |
Criação de áreas
verdes incluindo 680 hectares de parque e aumento do plantio de árvores
incluindo 240 km de árvores e gramados |
Houve propostas
não executadas |
Criação de
novo parque |
Metas de
empregos locais |
Metas
específicas para emprego local foram superadas |
Sem metas
específicas |
Sem consultas
ou participação da comunidade |
Forte
estratégia de voluntariado |
Criação de
novas oportunida-des de negócios na área do legado |
Planos de
criar novas oportunidades de negócios por vários meios |
Plano para tornar
Pequim não apenas uma cidade produtora mas consumidora, com benefícios
econômicos |
Modestos
impactos econômicos de longo prazo, embora infraestrutura tenha seus efeitos |
Demora no
estabelecimen-to de novo centro da cidade, mas economia cresceu por meio dos
investimentos feitos |
Resultados
para a saúde em geral |
Reiteração
de metas de aumento da atividade física e participação em esportes durante
sucessivos governos. Progressos nesta área não são animadores |
Críticas a
respeito de que muitos locais de esportes são caros para a população de
Pequim |
Sem metas
propostas |
Intenção
declarada de melhorar participação nos
esportes a partir do efeito Olímpico, mas não houve monitoramento deste
impacto |
Fonte: “Assegurando um legado - promessas, progresso e potencial”, da Comissão para uma Londres-2012 Sustentável, março de 2012, que citou, por sua vez, Gold JR & MR 2011 Olympic Cities Second Edition; Locate in Kent 2009 Economic Impacts of Olympic Games; Manidis Roberts 2010 The Legacy of the Green Games; East Thames nd 2012- Home Games; Greenpeace n.d The Beijing 2008 Environmental Performance Evaluation; UNEP 2008 UNEP Evaluation of Beijing 2008 Games. )
O propósito de renovação completa do Lea Valley, no East London, foi enfim alcançado, com a observação de muitos princípios da sustentabilidade e em função da governança estabelecida. Um dos principais pontos é que os Jogos Olímpicos e as Paraolimpíadas de 2012 em Londres são os primeiros da história olímpica a mapear a pegada de carbono, visando a redução de pelo menos 50% das emissões. A meta de geração de 20% da energia consumida no projeto olímpico por fontes renováveis não foi cumprida, porque não houve, ao contrário do esperado, aumento substancial da oferta de energias renováveis em Londres no período, mas foram aplicadas medidas para uso mais eficiente da energia.
O fato de que mais de 80% do solo foram limpos e reutilizados no próprio território do parque olímpico indica a dimensão das operações, que incluiram o transporte de 2 mil toneladas de resíduos por barcaças. As fundações para o Centro Aquático, Arena de Handball e Estádio Olímpico usaram concreto com mais de 30% de material reciclado. Um viveiro do Reino Unido foi contratado para fornecer 60.000 plantas para o jardim do Parque Olímpico, localizado ao lado do Centro Aquático. No final de dezembro de 2010, havia 6500 pessoas trabalhando no Parque Olímpico e mais de 5300 na Vila Olímpica. Mais de 200 mulheres foram contratadas, o projeto envolveu mais de 400 aprendizes e 75% das pessoas anteriormente desempregadas e que foram contratadas eram provenientes de cinco distritos de East London.
O conceito geral de sustentabilidade observado foi construído com a parceria das organizações BioRegional e WWF. O relatório de sustentabilidade de Londres-2012 foi elaborado de acordo com os indicadores do GRI - Global Reporting Initiative. Este relatório, mais as conclusões da Comissão para uma Londres-2012 Sustentável, representam importantes subsídios para os próximos megaeventos esportivos - quatro deles a serem realizados no Brasil nos próximos quatro anos. (Por José Pedro S.Martins)
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