quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Dia Mundial da Filosofia, para pensar a sustentabilidade

Fórum Social Mundial 2005, em Porto Alegre, símbolo da

efervescência do pensamento que pode transformar



Por José Pedro Martins



Neste dia 17 de novembro, quinta-feira, as Nações Unidas promovem o Dia Mundial da Filosofia. A data foi oficializada por iniciativa da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), que a celebra desde 2002. Na sua mensagem para o Dia Mundial da Filosofia de 2011, a diretora-geral da Unesco, Irina Bokova, observa que a filosofia, o exercício do pensamento crítico e a liberdade de expressão são "elementos fundamentais na busca coletiva de respostas duradouras aos desafios da paz e o desenvolvimento".

De fato, o Dia Mundial da Filosofia de 2011 reveste-se de significado especial, considerando o movimento global por um novo modelo de desenvolvimento, que necessariamente implica na recusa ao pensamento único da sociedade consumista e destruidora dos recursos naturais. O movimento dos indignados em escala mundial e a Primavera Árabe que sacudiu vários países são exemplos do desejo coletivo por um novo estilo de vida, assim como já fizeram o Fórum Social Mundial (com várias edições no Brasil e outros países) no início do século 21 e o movimento estudantil da década de 1960.

Nas vésperas da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, o Dia Mundial da Filosofia dá enorme contribuição, no sentido de que é fundamental repensar o sentido da presença humana na Terra, a sua relação com a biodiversidade e os recursos naturais. Uma Ecofilosofia, aliás, vem emergindo de vários círculos de debates. A Ecologia Profunda, inspirada em pensadores como o filósofo norueguês Arne Naess, e o Ecofeminismo, que tem expoentes como Vandana Shiva, são algumas linhas de pensamento a contribuir para uma filosofia afinada com os desafios contemporâneos.

Muitas ideias caras à Ecologia Profunda, apontadas por Naess na década de 1970, têm a sua validade cada vez mais atual. Entre outros pontos, a Ecologia Profunda defende a harmonia entre o humano e a natureza, contra a visão antropocêntrica que ainda impera em vários segmentos, e a valorização do desenvolvimento descentralizado, da reciclagem, de ciência e tecnologia afinadas com a defesa da vida e de projetos humanos maiores do que o simples produzir e consumir de forma ilimitada. Ao recusar a visão machista de mundo, o ecofeminismo também propõe o questionamento da hierarquização que colocou o humano como senhor absoluto da biodiversidade e defende valores como o respeito à diversidade, a erradicação de todas modalidades de preconceito e racismo.

Filosofia renovada e sustentabilidade têm tudo, então, para caminhar juntas no século 21. Na sua mensagem para a data, a diretora-geral da Unesco observa que "ultimamente temos sofrido várias catástrofes de grande magnitude que conferem estremecedora urgência à reflexão sobre o lugar do homem na natureza". Para Irina Bokova, esse enorme desafio de ordem ecológica e fatos como a Primavera Árabe geram a exigência de que "redobremos esforços para dar a todos, jovens e não-jovens, os meios de refletir sobre sociedades que se encontram em plena mutação". O pensamento que dança e que se recusa a permanecer calado. (José Pedro Martins é jornalista e escritor, autor de livros como "Agenda 21 Local para uma Ecocivilização")

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